10 de agosto de 2013

CRÔNICA: Colapso #2




Repentinamente, tensão. Há uma linha tênue entre raiva e tristeza e hoje eu me encontro nela. É interessante estudar esses fenômenos dos sentimentos, principalmente quando você é o objeto de estudo. Hoje em dia é fácil demais se expor, mas o que fazer quando você se sente solitário o bastante para desabafar e, ao mesmo tempo, quer sua privacidade? O que fazer quando sua dor cresce de forma exponencial em relação ao tempo?

Tentar escrever sobre algo tão subjetivo sem ser direto. É isso que estou tentando por meio deste.
A vontade real de qualquer um na minha situação seria de levantar agora e eliminar o problema do modo mais arcaico possível. Que fique claro: este não é um apelo nem um pedido. Muito menos uma ordem. Não passa de um colapso.

É incrível sentir as oscilações naquela tênue reta de que havia comentado. Num mesmo minuto as vontades podem se diversificar entre destruir tudo em volta ou deitar e deixar tudo sair em lágrimas. Se ao menos eu fosse capaz de ter esta incrível habilidade quando eu precisasse. Invejo os que conseguem com facilidade, devo dizer. Sou obrigado a manter todas as emoções dentro de mim e viver com isso.

Leitor, se você já se sentiu como eu me sinto hoje, acredito que no momento tenha lembrado das diversas vezes que sacrificou algo pelo conforto do próximo. Talvez nessa hora tenha aprendido que nem tudo funciona como um espelho plano. Talvez um esférico ilustre melhor como tudo funciona: suas boas intenções são refletidas em tamanho menor, seus deslizes voltam vezes maiores.

Não vou entrar na física da situação, mas as batidas do relógio não me permitem deixar de pensar no movimento uniforme que o ponteiro deste efetua. A execução interminável de sua função me surpreende, mas a euforia da surpresa passa. Sinto-me instável e inseguro. Este barulho me enoja. A raiva aflora como uma rosa. Cada batida do relógio dá-me uma pontada mais forte e cada vez mais profunda. Ouço com atenção.

Tic

O som parece esmagar minha sanidade. Apelo aos deuses que nunca me ouviram. As mãos tremem. O suor, tímido, começa a escorrer pelas têmporas.

Tac

Mais uma batida que me atormenta essa noite. O tom de sua martelada ainda mais poderoso. Os segundos parecem minutos. A razão, já escondida e cega pelo medo, tenta direcionar-me.

Tic

Sem sucesso, as paredes parecem menores e cada vez mais próximas. O som reverbera pela sala em que me encontro. Não consigo ver um modo de sair deste estado de espírito.

Tac

O volume aumenta. As batidas alinham-se como batimentos cardíacos e começo a perceber suas pequenas arritmias. Sinto cheiros e sensações que não existem ali de fato.

Tic

Caos. O que havia em minha frente não há mais, atirados na parede. Sons de objetos explodindo contra o anteparo. Ódio. Sangue. Gelo.

O telefone toca. Pego-o do chão. Leio.

Tic Tac

Calmaria.





8 comentários:

  1. Você sabe que eu sou sua fã. Parabéns pelo texto, amor!

    Gabriela

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  2. Filho, estou muito orgulhosa de vc... que texto, que fôlego... Simplesmente Lindo!!!!

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  3. Lindo texto filho, mas como bom judeu que sou, mandarei a conta do relógio que vc quebrou. Melhor, descontarei da sua mesada.

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  4. Você é um menino perigoso... tá mergulhando profundo demais, caminho belo e tortuoso.
    Mandou muito bem!

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