LIVRO [Resenha]: Morte Súbita - J.K. Rowling

Ao anunciar a publicação de seu primeiro romance adulto, desvencilhado da série Harry Potter, J.K Rowling parecia firmar o curso natural das coisas. Como todo grande escritor de sucesso por uma obra específica, quer retomar sua autenticidade e contestar a si mesma. Nesse sentido, The Casual Vacancy (no Brasil, “Morte Súbita”) é competente. A britânica, de fato, soube contar uma história. Criá-la, nem tanto.

      

Título: Morte Súbita (3.5/5)

Título Original: The Casual Vacancy
Autor: J. K. Rowling
Editora (BR}: Nova Fronteira

Sinopse: Quando Barry FairBrother morre inesperadamente aos quarenta e poucos anos, a pequena cidade de Pagford fica em estado de choque. A aparência idílica do vilarejo, com uma praça de paralelepípedos e uma antiga abadia, esconde uma guerra. Ricos em guerra com os pobres, adolescentes em guerra com seus pais, esposas em guerra com os maridos, professores em guerra com os alunos… Pagford não é o que parece ser à primeira vista. A vaga deixada por Barry no conselho da paróquia logo se torna o catalisador para a maior guerra já vivida pelo vilarejo. Quem triunfará em uma eleição repleta de paixão, ambivalência e revelações inesperadas?

      

A história abrange os efeitos da morte de Barry Fairbrother (nesse sentido, Rowling é inteligentíssima ao colocar o confronto motriz de todos os outros logo nas primeiras páginas, para apenas depois nos apresentar personagens e locais) nos habitantes da pacata Pagford. A pequena cidade funciona como uma cidade satélite de Yarvil, e um conflito político bem construído é colocado nesse meio. Yarvil, em sua expansão digna de metrópole, construiu residências no terreno de Pagford, de forma teoricamente irregular.  São os chamados Fields, que geram uma divisão na cidade. De um lado, os que são a favor deles, e que a Paróquia de Pagford assuma sua responsabilidade sobre tais terrenos; e os que são contra, querendo devolver suas obrigações à Yarvil. Quando Barry (pro-Fields) morre, uma cadeira na Paróquia fica vazia, e o lado que conquistá-la tem maiores chances de fazer valer sua opinião.

Assim, Rowling é também muito inteligente quando adota um personagem como foco narrativo por capítulo, ou até por parágrafo, para mostrar o egoísmo e o preconceito nos anti-Fields, e ao mesmo tempo mostrar a hipocrisia gritante e as falsas boas intenções nos pro-Fields. Todos os lados são sujos, todos os lados têm defeitos. Dessa forma, a autora deixa ao leitor a escolha sobre qual lado prefere.

Por outro lado, Rowling não nos permite realmente conectar com as personagens e seus dramas pessoais, e, quando tenta, é de forma tão artificial e descarada que a sensação é de se estar lendo um script de novela. Ao abordar a vida adolescente, Rowling começa tendo bastante sucesso, mostrando as aflições exageradas e o desejo artificial de contestação, e o desejo incontrolável por autenticidade. Mas falha ao usar-se de figuras forçadas para demonstrar tais características, como a linguagem caricata de Krystal Weedon para demonstrar suas origens pobres, ou as cenas mais fortes apresentadas de forma aleatória.

Todas essas falhas são facilmente esquecíveis enquanto Rowling não cruza as histórias das famílias, mas a partir desse momento, os clichês se englobam e se aumentam, e tornam uma história promissora algo fraco, artificial e muitas vezes pedante.  Isso se comprova no final melodramático, que se sustenta num ato heroico que, dentro das descrições anteriores, era impossível de se conceber.

[...]

Assim, pode-se dizer que a autora tinha em mente uma boa historia e boas ideias para colocar no papel, mas ao ilustrá-las, tropeçou em sua ânsia para provar-se capaz de abordar temas adultos, e, ao procurar chocar, torna tudo artificial e grandioso demais para uma história sobre o cotidiano.

The Casual Vacancy é um romance medíocre sobre mediocridade, regular o suficiente pra ser só isso. Bem menos do que se esperava da autora que encantou uma geração com sua criatividade ao lidar com o mundo mágico de outrora.